Sem pretensões, deixo aqui ideias e delírios que transformo em textos e em alguns rascunhos meus.
6 de setembro de 2009
Da série "A falta que ela me faz - parte 2"
Vontade que dá
Ando com uma saudade danada!
É... fazia tempo que isso não batia, assim, desse jeito.
Saudade de dançar na sala, sozinha, fingindo que a escova é o microfone.
Vontade de rever algumas fotos, ouvir meu coração bater mansinho.
Saudade do suor frio quando um olhar masculino cruzava com o meu.
Desejo de andar pela rua, sem pressa, na chuva, nem aí com o trânsito além da calçada.
Coisa boa que era acordar ao meio-dia, ficar de pijama e comer um monte de bobagens.
Ai! Que falta me faz o sol batendo ardido na pele pra dar cor ao que anda sem brilho.
Vontade de ler um livro emocionante, daqueles que me deixavam presa às páginas horas a fio.
Saudade de ficar ao telefone com um amigo distante recordando os velhos tempos.
E quando saia por aí, sozinha? Ia ao cinema, depois tomava lanche, bebia uma taça de vinho, comprava um mimo pra mim e achava o máximo a minha companhia!
Encantava-me com os próprios pensamentos e ria de minhas piadas solitárias.
Saudade de achar graça no que faço, chamar-me de ridícula quando isso é fato... e prosseguir na vida, querendo mais.
É feriado, chove lá fora e enquanto tudo está assim, parado no tempo, fico aqui, sentindo saudades de mim.
Na garganta
Tinham de ser duas diminutas bolinhas. Mas se tornaram duas amêndoas. Foi assim que o cirurgião definiu as amígdalas extraídas de meu filho.
E foi só aí que entendi que complicado amígdalas virarem amêndoas.
Comer se torna um ato quase impossível. A dor transfigura o rosto sereno que meu menino sempre traz estampado na cara. Ele sorri quando chego em casa exausta, pós trabalho, pedindo: "Gabriel, preciso do seu abraço da paz!". E ele me aperta gostoso, grandioso perto de mim, nos seus 178 centímetros de menino homem que, aos 18 anos, enfrenta a dor de retirar as amígdalas.
E quantas outras dores estão presas ali, na garganta?
Como a refeição engolida a seco, em minutos. Ou aquela gororoba mal feita que é a única opção de alimento... quantos sapos, quantas moscas, quantas merdas mandamos goela abaixo. Ou soltamos goela acima.
Não me lembro de quando extrai minhas amígdalas. Eu era pequenina - bem mais.
Mas lembro de muitas frases engasgadas, entaladas na garganta, que deixei de dizer para poupar o outro. Recordo-me do tempo em que minha garganta era profunda, sem fim, e eu estocava verdades não ditas.
Hoje não tenho essa "finura". Nada fica parado. Sai como entrou. Digo e pronto.
Mas os sapos... estes eu ainda cultivo no lugar das amígdalas que não mais tenho. Estão lá, a coachar a vontade que me bate, tantas vezes, de vomitar o que sinto no colo de quem pensa que está tudo na mais perfeita ordem. Aqueles que quando nasceram esqueceram de trazer consigo a dose mínima - e necessária - de bom senso.
Não que eu seja rainha do saber o que fazer ou o que dizer... não, não sou. Mas na minha fórmula pessoal veio, sim, a dose mínima.
E é pela garganta que tudo passa. Talvez nem todos tenham muita noção disso. O quanto uma boa garganta traz mais qualidade de vida. Vejo pelo que sou e pela experiência que passo agora com meu filho. Uma garganta ferida, magoada, às vezes não consegue sequer absorver o simples, sequer beber água.
E na minha garganta ainda existem muitas feridas. Não a tenho alimentado muito bem, confesso. E sem amígdalas, talvez muitas coisas não são filtradas como deveriam, contaminando minha alma.
Preciso usar a dose mínima de bom senso - que veio no meu pacote - para mudar isso.
Enquanto não faço um bom gargarejo na estreita garganta, ajudo Gabriel a engolir o mingau super ralinho e frio. É o que dá, meu filho. Neste momento, é o que dá.
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4 comentários:
Mari, esse texto está uma pérola. E em se tratando de garganta, digo que na minha aqui chegou até a dar um nó. Lindo, minha amiga. Lindo.
Cléo.
Disse tudo, Amiga. Quanta coisa entalada, nessa garganta nossa, maltratada. Que chegue mesmo este tempo de não mais nos segurarmos, nem mais engolirmos. E que o Gabi fique com uma garganta linda, limpa e feliz!
Beijo
Gabi
Adorei os dois textos. O de cima tb é ótimo, estou matando algumas saudades dessas coisas hoje, meu ultimo dia de férias. Beijo, Cris
é isso mesmo Mari, na minha área dizemos que nós temos um estomâgo com úlceras de tantos "sapos" que engolimos, sem digeri-los, isto é sem contestar situações que nossa profissão não permite, bjs.
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