12 de maio de 2010

Da série Casamento

Ex-solteira não procura

Ontem foi minha despedida de solteira. Eu casei e, depois, a despedida.
Tudo diferente do que fiz quando casei pela primeira vez.
Lá atrás, segui à risca todos os preparativos, da cerimônia religiosa à festa e lua-de-mel.
Eram os meus 25 anos de vida...
Hoje, aos 48, sai do trabalho numa sexta e voltei na segunda de aliança e tudo.
Avisei os mais chegados e recebi reações diversas: de apoio, incentivo, surpresa, desaprovação... e por aí afora.
Um mês depois, as amigas do trabalho bolaram uma despedida de solteira em uma loja super bacana, de lingeries e artigos mais que sensuais, se é que me entende...
Cheguei lá vendada. Fizeram o maior suspense. E enquanto o mistério permanecia, imaginei de tudo, até eu no palco do Clube das Mulheres ao lado de um cara mega sarado, colocando 10 reais na sunguinha dele ("Ainda bem que eu tenho dinheiro trocado!")
A noite começou. E quando me tiraram a venda, fiquei ali parada olhando as araras cheinhas de calcinhas e sutiãs maravilhosos!
Na mesa de vidro, no centro, salgadinhos para alimentar a ansiedade e a deliciosa champagne para relaxar os músculos. "Tim, tim!!! Tô casada, meninas!"
Com minhas amigas queridas, e auxílio da professora da casa, fui sabendo um pouco mais sobre o poder de sedução. Quase me inscrevi no curso de dança no cano.... sabe aquele que as moças aparecem fazendo nos puteiros dos filmes? Então... meu lado Demi Moore (que vezes balança pra Gosth e vezes vai pra bandas de Strep Tease) estava animadaço.
Acabei mesmo tirando muitas fotos, rindo um bocado, experimentando fragrâncias e cremes afrodisíacos e deixando a imaginação me levar.
Pensava no marido, que nem imaginava o que acontecia comigo - porque falei que não sabia mesmo, mas que tinham me convocado para algo nessa terça à noite: "Não marque compromisso, hein?", alertou-me uma das colegas que adoro.
Sai de lá mais casada do que nunca, meio alegrinha pela champagne, contente da vida porque esta fase está sendo maravilhosa e com algumas comprinhas para o fim de semana...uh,uh!
Hoje, quando acordei, lembrei de cada detalhe e me percebi outra nisso tudo. Senti-me super bem por poder ser e fazer desse jeito, sem regras, sem passos ensaiados. 
Imprimi, neste momento de minha história, um estilo próprio, de lingeries mais ousadas e fantasias livres.
Isso! Livre! É assim que me sinto, mesmo não sendo mais uma mulher solteira. E especialmente por não sê-la.
O conceito de liberdade, na altura da vida, muda muito, te garanto. Porque estou presa -muito presa - à felicidade.

10 de maio de 2010

Da série Delírios Urbanos

Fadinha

Tem gente que me acha doidinha. Eu me acho. Você também?
Mas, não ligo. Achar é não ter certeza. Você tem? Eu, não. De nada, aliás.
De qualquer forma, quando vejo pessoas me olhando curiosas, penso que é meu cabelo curto.
Ou seria por que sou pequenina? E o tamanho menina não combina com os pés de galinha que já coleciono na minha cara? Maybe...
Quando ando com meu amor, de mãos dadas, muitos olham também.
Os dois carequinhas? Ele é bem mais bonito do que eu? Eu pareço menina para ele? Ele é garotão demais pra mim?
Não sei...só sei que olham e sempre olham, enquanto me divirto.
Outro dia fui chamada na rua. Senhora modesta, de roupinha século 19, perguntou, sem dar trégua: "Já te vi na televisão, não foi? Ah, vi. Vi, sim!"
E eu, que nunca me vi na televisão, pensei se tinha aparecido num programa qualquer.
Mas a senhora, pessoa distinta, afirmou convicta: "Você é a fadinha do Castelo Rá-tim-bum!"
"Fadinha?! Tem fadinha no castelo?"
"Ora", falou a senhora, distinta, mas indignada: "Claro! E mora no lustre!"
Tentei voltar pra casa voando...mas...nada. Fui de metrô mesmo. Morar no lustre deve ser incrível, mas quando aceso...será que fica mais quente que a linha verde do metrô?
E por aí vai. Sempre alguém me diz coisas engraçadas sobre mim mesma. Claro que isso deve acontecer com todo mundo. Mas só sei de mim, né? Então, repasso.
Já fui chamada de pedófila por outra senhora decente, que me interrogou quando me viu abraçada ao meu filho, conversando e rindo com ele. Pro menino, que tinha 13 anos na época, aquilo pareceu muito dantesco. Aliás, de cara, ele não entendeu por que a tal estava tão irada comigo. E quando expliquei, meu pequeno me elogiou: "Tá arrasando, hein, mãe?". Foi o suficiente pra eu desistir de ficar irritada com a ignorância da senhora distinta, pero no mucho.
E a vida segue... gente que passa, gente que fica... ontem um se foi. Meu tio, de 80 anos. As ironias que doem, às vezes: ele morreu e a mãe, com 96 anos, continua firme e forte, questionando: "Por que não eu?"
É... por que não eu? Para uma mãe, o filho morrer antes dela deve dar uma sensação de vazio incrível.
Bem maior do que aquele que dá ao parir e o útero, flácido, oco, incomodar a cada espirro.
A vida espirra e um morre ali, do nada. Ou morre depois de muito sofrimento.
De qualquer forma, é duro...muito duro mesmo.
Quando acordei hoje, senti que preciso estar mais viva. E desci a pé do metrô Clínicas até quase meu trabalho, que é longe. E gostei de andar no chuvisco e parar na padaria.
Observei tudo a minha volta e tudo fez mais sentido. Até saber que quem amo não está comigo. Está, não está, está, não está... que nem pisca de carro... porque ele só pode estar vez ou outra, já que mora em cidade outra, onde eu moro vez ou outra.
E nessa hora - que ele não está comigo - sinto de novo o útero vazio. Coisa doida, já que não tenho útero há um bom tempo.
Mas nem me abalo, porque sou a fadinha do Castelo. E observo tudo do lustre mais alto, num acende e apaga conforme minha temperatura pede.
O que importa, então, é que um dia, lá na frente - e quase à frente - também serei uma distinta senhora, sem papas na língua, a questionar tudo o que não me fizer sentido. É isso... porque o sem sentido é que tem tudo a ver.

*Imagem retirada do site do Castelo Ra-tim-bum

Da série Datas Comemorativas

Amãenhecendo

Fui mãe aos 29 anos, biologicamente falando.
Mas acho que me sinto mãe, de fato, há pouco tempo.
Creio que quando Gabriel fez 18 anos.
Pode parecer bobagem, mas depois que ele emancipou-se,
mudei meu jeito de olhar para meu filho - e para mim.
Como ser mãe de um homem que anda, pensa, fala e age por si?
Que função eu posso ter numa vida sendo traçada sem qualquer interferência minha?
Hoje pouco importa o que eu diga. Ele decide, não mais eu.
Antes de bater aquela sensação de inutilidade que dizem surgir nessa fase, parei pra refletir o meu papel hoje. Percebi que minha responsabilidade sobre Gabriel é a mesma.
Jamais deixarei, de alguma forma, de influir no dia a dia de meu filho, porque compartilhamos entranhas.
E essa cumplicidade física e emocional é a mais intensa que se pode ter. Irremediável e eterna.
Eu o plantei e o reguei do meu jeito. Outros jeitos hoje ele tem, porque se plantou. Mas muito é do que deixei ali, como semente.
E hoje me percebo tão mãe quanto antes, quando o cordão nos ligava e eu definia seus passos.
Acho que ser mãe é acreditar e confiar que o filho saberá fazer as melhores escolhas,
é ter certeza naquilo que foi dito lá atrás, quando nem bem o menino sabia ler ou escrever.
Ser mãe é ter fé de que a vida será gentil com o menino, mesmo que alguns tropeços o façam se repensar.
Acho que nunca fui tão mãe como hoje. Fortalecida e feliz por saber que meu pequeno é um homem de barba rala, ideias próprias, sorriso autêntico e sonhos seus.
Por isso ontem, até então, foi o mais significativo pra mim nesse tal Dia das Mães.
O primeiro, depois de 19 anos, em que ele não estava ao meu lado.
Mas ao meu lado, pulsando, ele está.