No sábado fez frio de 10 graus. O domingo me pegou de jeito com calor de 30.
Acordei convencida a caminhar. Elegi a avenida Paulista. Mas para chegar próximo a ela, peguei um trânsito 'a la sexta hora do rush' que eu não entendi!
Parei o carro na Ana Rosa e fui a pé. Esse negócio de cortar por aqui e por ali pra fugir do engarrafamento é furada, porque todos os caminhos levam ao congestionamento.
Já estou perto da Consolação, deu 12h30, e resolvo entrar na Haddock Lobo. O Fran's, bem ali, tem uma única mesa vaga na calçada. Sento. A maioria dos que estão lá forma casais homossexuais. Dois homens ao meu lado conversam animadamente. Na verdade, um. O outro escuta, fala pouco. Mas percebo que a conversa é totalmente hetero. "Terminamos, mas resolvemos continuar trabalhando juntos. Não deu. Ela cria sempre um problema. Não gosta da forma como encaminho as coisas. Eu antevejo o futuro. Ela pensa é no presente (e eu pensando comigo: nunca li 'Homens são de Marte, mulheres são de Vênus'...ou é o contrário?)". E o cara continuou monologando: "A gente traz coisas da forma que fomos criados, feridas... e aí cada um age como é melhor... e nós dois estávamos nos magoando. Era difícil porque eu sou sagitariano, sabe? Eu gosto muito dela, mas acho que criamos uma dependência ruim: ela satisfaz meu lado carente e eu satisfaço o seu lado material". Felizmente, antes que eu perguntasse qual era o signo dela e que carência material ela tinha, meu prato chegou. E me isolei - eu com minhas garfadas - até que vi uma pessoa se aproximando, sorrindo. Opa! E quem disse que em Sampa é difícil encontrar alguém conhecido? Pois eu sou expert em encontrar e ser encontrada. Amigo das antigas, de trabalho. Sentou-se. Gosto muito dele, nem sei bem porquê. Mas gosto. Profissionalmente, então, acho-o o máximo. Falamos dos trabalhos atuais, de amenidades para um domingão ensolarado, e acabei descobrindo que ele não tem predileção por ruivas (ah, bom!). As desenha no blog porque a cor facilita...vermelho. E com a cara mais leve do mundo (porque ele sempre foi um cara de aura leve - hum... acho que é por isso que gosto tanto dele) meu velho amigo se levanta. Eu fico pra terminar o suco de mamão, meio aguado. E estava pronta a prestar atenção novamente ao papo ao lado. Mas...foram embora e não percebi. Paguei a conta e rumei à Paulista. Deparei-me com um semáforo que marcava verde e vermelho ao mesmo tempo. E lembrei de situações recentes que vivi. Quanta falta faz um amarelo... Passei na frente da Casa das Rosas e me veio à lembrança um ex. O cara mais narcisista que já conheci. Mas são águas passadas. Atualmente estou sozinha. Quero distância de certas patologias. Cheguei perto de onde deixei o carro, de língua de fora (eu, é claro!), suada e com as pernas bambas. No botequinho árabe, entrei pra beber algo. A dona, sentada na mesinha, pergunta: "Que quer, menina?". Penso que os parâmetros de tempo mudam muito conforme a idade do observador. Peço um refri diet e um doce - adoro as minhas contradições. A senhora volta para trás do balcão quando me dirijo ao caixa. Me diz, na maior simplicidade, que tem inveja da coragem de pessoas como eu, que cortam o cabelo bem curtinho. Penso: "Pra mim corajosa é essa mulherada que acorda super cedo pra fazer escova, gasta os tubos pra alisar ou encrespar o cabelo e vive correndo da chuva pra não estragar a chapinha". E me lembro que quando estava caminhando, perto da Gazeta, um cara falou mais alto, pra eu escutar, ao passar por mim: "Oi, Elis Regina!" Juro que foi a cantada mais bacana que levei nos últimos tempos. Voltei pro carro cantarolando: 'quando caminho pela rua lado a lado com você, me deixas louca... você me abraça, a noite passa... meeeee deixas looouccaaaaa'. Paguei o estacionamento e voltei pra casa. Durante o banho revigorante, tive uma única certeza: caminhar é preciso!