Papai Noel?
Ele ficou a madrugada toda de pijama, acordado na frente da árvore esperando o bom velhinho.
Pra conseguir isso, teve de driblar um time de adultos que queria convencê-lo a dormir logo pra poder receber os presentes... mas só no dia seguinte.
Viu num programa de TV que era possível enganar essa moçada chata e insistente.
Bastava fazer cara de bonzinho, super convencido de que dormir seria a melhor opção naquele momento.
Beijou pai, mãe, mano mais velho, tia, avô, avó, a outra avó, a vizinha, o marido dela, a madrinha, o padrinho... e foi pra cama.
Duas vezes alguém do batalhão "veja lá se ele dormiu" foi até o quarto para verificar o estado das coisas.
E ele, mega esperto, estava atento, mantendo os olhos fechados e a cara de "dormi e não acordo tão cedo".
Ao fundo, ele ouvia uma falação sem tamanho. Risadas sufocadas por "Psiu! Ele vai acordar!" e algumas panelas e copos que se batiam na cozinha.
Manteve-se acordado até que o silêncio tomou conta da casa. Mais ao fundo ainda, o ronco do avô no quarto ao lado era a deixa pra saber que a área estava livre.
Meteu as pantufas de urso nos pés, fez um amontoado de travesseiros e lençol para fingir-se ainda ali, na cama, e saiu pé ante pé até chegar à sala e ao sofá, em frente a árvore onde os presentes seriam depositados pelo Noel.
Olhou no relógio e, como não sabia ainda ver as horas, deduziu qualquer coisa só para fingir-se dono da situação: "Duas da madrugada... falta pouco".
Nem bem pensou nisso, ouviu um barulho na parte de trás da casa.
Escondeu-se perto da estante velha e ficou ali, quase sem respirar. Queria assistir a tudo sem que o velhinho notasse sua presença. Afinal, se o visse à espreita, podia sentir-se invadido e desistir de sua missão.
Como estava meio escuro, só viu o vulto esgueirando-se. Um saco enorme e os movimentos de colocar coisas pelos cantos da sala.
Vai ver, era a nova ordem para a distribução, dando mais emoção à coisa.
Em menos de 15 minutos, tudo terminado. O bom velhinho saiu da casa, do mesmo jeito discreto que entrou.
O menino voltou pra cama com o coração aos pulos. Tinha valido à pena, mesmo sem ver ao certo a figura tão querida pelas crianças. Mas já podia contar na escola, na volta às aulas, que tinha conhecido Papai Noel. Haja assunto!
O dia acordou, ou melhor, foi acordado por um berro histérico da vovó, a primeira que se levantou para preparar o café.
Todos, assustados, foram ao seu encontro, inclusive o menino, morrendo de medo de que tivessem descoberto a sua traquinagem.
Atrás das pernas do pai ele viu o horror instalar-se na família bem no dia de Natal, que passou no colo da mãe, na delegacia.
O ladrão levou tudo! Do DVD aos celulares e enfeites de porcelana.
Mas o menino, de cara meio decepcionado, acabou se contentando. Podia contar na escola que assistiu a um assalto ao vivo, na noite de Natal.
Só torcia - e muito - que o larápio não tivesse encontrado o Papai Noel na saída da casa e roubado todos os presentes. Porque isso, sim, seria imperdoável!
Sem pretensões, deixo aqui ideias e delírios que transformo em textos e em alguns rascunhos meus.
27 de dezembro de 2010
Da série Férias
Flor da pele
Estou descalça. Sinto o asfalto, a relva, a areia, o pó que tudo cobre.
Sempre usei meus sapatos surrados, que hoje ficaram lá atrás.
Caminho com os pés livres. Sei que formará uma crosta no calcanhar. Isso sempre me assustou.
Mas percebo que será a minha proteção, para que eu possa caminhar em qualquer lugar.
Estou descalça e ainda me pego estranhando este ou outro solo.
É quando uso a ponta dos pés e equilibro-me na dúvida do que encontrarei logo ali.
É assim - me dizem - quando se aprende a andar.
Faxina
Tempo de jogar fora tudo o que está na prateleira do "nada a ver".
Êta prazer bom de desfazer-se do que não serve.
Cresceu a alma. Assim, algumas manias não me cabem mais.
Ainda guardo outras. Talvez as expulsarei em outro final de ano. Quando achar que não as necessito.
É fato que me sinto menor. Só levo comigo o que me preenche.
Nada de transbordar e limpar aquilo que não tem lugar.
O que seria isso?, pergunto-me. Amadurecimento ou estreiteza, respondo-me
Não sei, ao certo. Mas me contento com o pouco que em mim se contenta também.
Mudança
Tô na fase de arrumar o que levarei para minha casa nova, numa cidade nova, no novo interior.
É incrível como agora não existe espaço para o velho. Não no meu.
E desfaço-me tão tranquilamente de coisas que chego a flutuar nessa leveza que hoje é a minha vida.
Nova cidade, nova casa, novo momento que a cada dia se renova e me faz sonhar com o que achei ser impossível: a felicidade de quem pouco quer e tudo encontra em si mesmo.
Estou descalça. Sinto o asfalto, a relva, a areia, o pó que tudo cobre.
Sempre usei meus sapatos surrados, que hoje ficaram lá atrás.
Caminho com os pés livres. Sei que formará uma crosta no calcanhar. Isso sempre me assustou.
Mas percebo que será a minha proteção, para que eu possa caminhar em qualquer lugar.
Estou descalça e ainda me pego estranhando este ou outro solo.
É quando uso a ponta dos pés e equilibro-me na dúvida do que encontrarei logo ali.
É assim - me dizem - quando se aprende a andar.
Faxina
Tempo de jogar fora tudo o que está na prateleira do "nada a ver".
Êta prazer bom de desfazer-se do que não serve.
Cresceu a alma. Assim, algumas manias não me cabem mais.
Ainda guardo outras. Talvez as expulsarei em outro final de ano. Quando achar que não as necessito.
É fato que me sinto menor. Só levo comigo o que me preenche.
Nada de transbordar e limpar aquilo que não tem lugar.
O que seria isso?, pergunto-me. Amadurecimento ou estreiteza, respondo-me
Não sei, ao certo. Mas me contento com o pouco que em mim se contenta também.
Mudança
Tô na fase de arrumar o que levarei para minha casa nova, numa cidade nova, no novo interior.
É incrível como agora não existe espaço para o velho. Não no meu.
E desfaço-me tão tranquilamente de coisas que chego a flutuar nessa leveza que hoje é a minha vida.
Nova cidade, nova casa, novo momento que a cada dia se renova e me faz sonhar com o que achei ser impossível: a felicidade de quem pouco quer e tudo encontra em si mesmo.
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