27 de dezembro de 2010

Da série Férias

Flor da pele

Estou descalça. Sinto o asfalto, a relva, a areia, o pó que tudo cobre.
Sempre usei meus sapatos surrados, que hoje ficaram lá atrás.
Caminho com os pés livres. Sei que formará uma crosta no calcanhar. Isso sempre me assustou.
Mas percebo que será a minha proteção, para que eu possa caminhar em qualquer lugar.
Estou descalça e ainda me pego estranhando este ou outro solo.
É quando uso a ponta dos pés e equilibro-me na dúvida do que encontrarei logo ali.
É assim - me dizem - quando se aprende a andar.

Faxina

Tempo de jogar fora tudo o que está na prateleira do "nada a ver".
Êta prazer bom de desfazer-se do que não serve.
Cresceu a alma. Assim, algumas manias não me cabem mais.
Ainda guardo outras. Talvez as expulsarei em outro final de ano. Quando achar que não as necessito.
É fato que me sinto menor. Só levo comigo o que me preenche.
Nada de transbordar e limpar aquilo que não tem lugar.
O que seria isso?, pergunto-me. Amadurecimento ou estreiteza, respondo-me
Não sei, ao certo. Mas me contento com o pouco que em mim se contenta também.


Mudança

Tô na fase de arrumar o que levarei para minha casa nova, numa cidade nova, no novo interior.
É incrível como agora não existe espaço para o velho. Não no meu.
E desfaço-me tão tranquilamente de coisas que chego a flutuar nessa leveza que hoje é a minha vida.
Nova cidade, nova casa, novo momento que a cada dia se renova e me faz sonhar com o que achei ser impossível: a felicidade de quem pouco quer e tudo encontra em si mesmo.

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