27 de dezembro de 2010

Da série Crenças

Papai Noel?

Ele ficou a madrugada toda de pijama, acordado na frente da árvore esperando o bom velhinho.
Pra conseguir isso, teve de driblar um time de adultos que queria convencê-lo a dormir logo pra poder receber os presentes... mas só no dia seguinte.
Viu num programa de TV que era possível enganar essa moçada chata e insistente.
Bastava fazer cara de bonzinho, super convencido de que dormir seria a melhor opção naquele momento.
Beijou pai, mãe, mano mais velho, tia, avô, avó, a outra avó, a vizinha, o marido dela, a madrinha, o padrinho... e foi pra cama.
Duas vezes alguém do batalhão "veja lá se ele dormiu" foi até o quarto para verificar o estado das coisas.
E ele, mega esperto, estava atento, mantendo os olhos fechados e a cara de "dormi e não acordo tão cedo".
Ao fundo, ele ouvia uma falação sem tamanho. Risadas sufocadas por "Psiu! Ele vai acordar!" e algumas panelas e copos que se batiam na cozinha.
Manteve-se acordado até que o silêncio tomou conta da casa. Mais ao fundo ainda, o ronco do avô no quarto ao lado era a deixa pra saber que a área estava livre.
Meteu as pantufas de urso nos pés, fez um amontoado de travesseiros e lençol para fingir-se ainda ali, na cama, e saiu pé ante pé até chegar à sala e ao sofá, em frente a árvore onde os presentes seriam depositados pelo Noel.
Olhou no relógio e, como não sabia ainda ver as horas, deduziu qualquer coisa só para fingir-se dono da situação: "Duas da madrugada... falta pouco".
Nem bem pensou nisso, ouviu um barulho na parte de trás da casa.
Escondeu-se perto da estante velha e ficou ali, quase sem respirar. Queria assistir a tudo sem que o velhinho notasse sua presença. Afinal, se o visse à espreita, podia sentir-se invadido e desistir de sua missão.
Como estava meio escuro, só viu o vulto esgueirando-se. Um saco enorme e os movimentos de colocar coisas pelos cantos da sala.
Vai ver, era a nova ordem para a distribução, dando mais emoção à coisa.
Em menos de 15 minutos, tudo terminado. O bom velhinho saiu da casa, do mesmo jeito discreto que entrou.
O menino voltou pra cama com o coração aos pulos. Tinha valido à pena, mesmo sem ver ao certo a figura tão querida pelas crianças. Mas já podia contar na escola, na volta às aulas, que tinha conhecido Papai Noel. Haja assunto!
O dia acordou, ou melhor, foi acordado por um berro histérico da vovó, a primeira que se levantou para preparar o café.
Todos, assustados, foram ao seu encontro, inclusive o menino, morrendo de medo de que tivessem descoberto a sua traquinagem.
Atrás das pernas do pai ele viu o horror instalar-se na família bem no dia de Natal, que passou no colo da mãe, na delegacia.
O ladrão levou tudo! Do DVD aos celulares e enfeites de porcelana.
Mas o menino, de cara meio decepcionado, acabou se contentando. Podia contar na escola que assistiu a um assalto ao vivo, na noite de Natal.
Só torcia - e muito - que o larápio não tivesse encontrado o Papai Noel na saída da casa e roubado todos os presentes. Porque isso, sim, seria imperdoável!

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