5 de fevereiro de 2011

Da série A volta dos que não foram

Abandono

Segunda sempre é um dia estranho. A minha será traumática. Já sei.
Vou sair do meu ninho, gostoso, calmo, para voar ao inferno.
Terei de deixar pra lá os shorts, a camiseta fresquinha e os chinelos havaianas que agora me acompanham quase que por 24 horas (só os tiro para dormir porque eles também merecem uma folga de meus pés, que nunca andaram tanto e com tanto prazer).
Vou deixar também a sensação boa de acordar, espreguiçar, ainda fazer certa hora, depois ficar de pijama até que o café esteja prontinho.
Levantarei antes do sol e pularei com pressa pra me arrumar e me sufocar nas roupas que a vida impõe à convivência profissional.
Na hora do almoço, não mais terei a alegria de fazer pro maridão as panquecas especiais. Só nos finais de semana, quando o ninho é totalmente meu de novo.
Sinto um certa angústia ao pensar em tudo isso, depois de 15 dias de puro prazer.
Mas já sei - porque cresci - que nem tudo são flores... e quase abandonei meu jardim. Mas ainda bem que não o fiz - porque não cresci tanto. Agora terei muito pra cultivar, mesmo que só nos finais de semana.
O restante, como diriam alguns, são ossos do "orifício".
Mas o duro mesmo, na segunda-feira, será olhar para trás e enxergar minhas havaianas largadas, solitárias ao lado da cama...

30 de janeiro de 2011

Da série Interior

Iô-iô

Hoje fomos à festa do figo, em Valinhos.
Aquela coisa boa de interior. Ver e comer tudo que é possível ser feito com figo.
Do suco à fruta com chantilly.
Fui pensando assim...desse jeito simplista de quem nasceu e viveu na cidade grande.
Chegamos num espaço enorme.
Calor insuportável, de fritar figo no asfalto!
Vinhos, licores, doces, artesanato...até aí, tudo dentro do esperado. Mas, olha ali aquela barraquinha!
"Proibida a venda para menores de 18 anos". Ao lado, em letras garrafais: dose de capeta!
"Tira o pé do chão, moçada!" Voltei a Porto Seguro por alguns minutos - pelo menos enquanto tomava o capeta.
Sem grandes pretensões, entramos num outro espaço mais fechado. Era o terceiro campeonato free style de iô-iô. Acredita?
E eu que já achava o máximo fazer o iô-iô que ganhei na quermesse da escola subir e descer sem deixá-lo se enroscar todo?
Nada! O primeiro garoto, ao som do Sepultura, parecia dominado. Fazia o brinquedo dançar no ritmo, com malabarismos que jamais eu ousaria imitar.
O segundo foi de hip hop e levou a galera à loucura.
Saimos do campeonato e eu já comecei a achar que viver no interior não tem nada de tão previsível. Uma festa do figo não é, com certeza, só uma festa do figo... tem de capeta a iô-iô.
Mas não parou por aí - nem o calor, que aumentava minuto a minuto.
Ouvimos um outro som que vinha da ampla barraca do Churrasquinho Mimi. Nela, em um palco, um senhor negro, no estilo americano, todo de preto, cantava acompanhado por um teclado daqueles que reproduzem todos os instrumentos.
"Let me try again...let me try again...." e engatou a seguinte "New York, New York!!!!".
Cara, te digo de verdade: ele mandou tão bem quanto o Frank Sinatra. Uma voz de calar as mastigadas do povo sentado às mesas. E imagina: o pessoal, atacando os espetinhos Mimi, ao som do Frank, numa festa do figo?
E foi assim meu domingo no interior. O mais incrível é que sai de lá sem comer um figo se quer!
Sei lá se isso tudo tem algo demais... mas pra mim teve. Percebi que alguma coisa mudou o meu jeito de olhar. Let me?