26 de janeiro de 2010

Da série Blade Runner


Chuva ácida

Olha, tá difícil! Viver nesta cidade nestes tempos molhados é dose.
Lembro-me do famoso filme protagonizado pelo mais que super Indiana Jones antes de ele se dar conta de que encontrar a arca perdida é mais negócio do que sacar quem era ou não um replicante.
Assisti ao filme duas vezes. Trilha sonora perfeita. Clima, enredo...tudo 10.
Mas jamais imaginei que algo assim poderia acontecer na vida real.
A chuva ácida tá quase igual. E são todos os dias deste verão sem graça, em que o ator principal, o sol, não dá as caras.
Replicantes eu não encontrei, mas implicantes têm de sobra. 
Mas meu objetivo mesmo - prioritário - é driblar a chuva. Conseguir chegar aos meus destinos sem ficar horas parada no trânsito e na enchente, de saco cheio - ou bexiga estourando.
É uma ginástica complexa: vou de carro trabalhar na zona norte - moro na zona sul. Quando a tempestade se arma é quase final da tarde, o que meleca tudo.
Deixo o carro no trabalho, pego o metrô, desço na estação perto de casa, pego táxi ou ônibus - depende do que estiver mais fácil - e chego no meu doce lar super mais cedo do que se estivesse de carro em noites secas (foi assim hoje).
Venho sentada, observo pessoas que entram e saem do vagão, analiso posturas, perfis que imagino, vejo a TV que projeta notícias sem som... enfim: fico mais gente e mais humana, sem estresse e com uma alegria imensa por ter me dado o direito de improvisar.
Amanhã, como estou sem carro, vou para o metrô. Desembarco na estação há duas quadras do trabalho. Se mais à tardinha tudo recomeçar, não me faço de rogada: repito a estrátégia, sem pudores.
E se a coisa continuar nessa dinâmica de Noé, acabo vendendo o carro, comprando 365 passagens de metrô e fazendo amizade com o pessoal do ônibus.

Metrô

É muito interessante andar de metrô. A possibilidade de encontrar pessoas com características muito distintas e instigantes é enorme. Olho caras cansadas, exaustas até, e imagino quão corrida são as vidas dessas pessoas. Por outro lado, existem os que transmitem uma leveza de dar inveja a qualquer monge tibetano. Dentre os interessantes destacam-se as crianças que, mesmo apertadas em colos e sacolas cheias, sorriem curiosas perguntando tudo: "quantas estações faltam, mãe?", "essa voz é de robô ou de gente?", "como a porta sabe que tem de abrir, mãe? E fechar?"
Questões simples mas que demandam muuuuita explicação de adultos pouco pacientes.
Os idosos sofrem... porque educação não é o forte dos parceiros de transporte. Uma pena! Porque o metrô é um terreno fértil para o exercício da cidadania. Mas poucos têm essa consciência. A maioria se cala fingindo um sono sem fim ou isolam-se com a cara-de-não-é-comigo.
Mas não percamos tempo com os impuros! Legal mesmo é ver a moçada, pós escola, que entra falando alto e dando risada. Muitos mais velhos fazem cara-de-que-saco. Eu fazia. Até me dar conta que essa manifestação escancarada faz parte do processo de amadurecimento pelo qual todos passamos. Gritar, gargalhar é coisa própria de jovem. Sabe aquilo que ainda não tá lapidado? Pois é! Um dia muda. Só torço para que não percam tudo.
E aqueles que param na porta? Ah... eu acho o máximo, porque o 'robô' ou quem dita as mensagens pelo alto-falante é tão explícito que chega a encher: "deixem as entradas livres, não segurem as portas" e por aí vai.
Mas a aventura do metrô não para nos vagões. As escadas rolantes são um show à parte. O mais intrigante: pessoas que sobem pela rolante andando rapidamente, galgando os degraus com pressa, atropelando quem se deixar rolar. Amigo! Realiza? Vai pelas escadas fixas, companheiro. Elas combinam com sua pressa de ir e vir. E fazem bem à saúde.
As aventuras metropolitanas que vivi a pé sempre foram mais interessantes que aquelas dentro de um celta 1.0 flex. A paisagem é outra e, embora num ande e pare sem fim,  traz imagens estáticas de pessoas grudadas ao volante, sem muita expressão (ou grudadas ao celular).
Eu mesma sou uma delas (mas não falo ao celular). Só quebro isso quando, no rádio, toca aquela música que dancei nas baladas e não me aguento: tenho de chacoalhar. O que me destoa de todo o resto...olhares fixos no horizonte estreito dos parabrisas.
Minha próxima aventura serão as lotações. E aí eu volto pra contar tudo o que aprendi sobre mim mesma.
Agora, tenho de descer. Por favor: parem o mundo!

Nenhum comentário: