28 de setembro de 2010

Da série Cotidiano

Tudo a ver

Chuva e preguiça tem tudo a ver.
O que mais tem a ver assim?
Sua pele e a minha.
Porque, sob as cobertas, no domingo gelado,
o calor que emanamos esquenta a vida.
E fazemos disso o nosso sol particular.


Cachaça

Quando bate a 'marvada',
é ela quem nos salva: a pinga.
Até nisso combinamos.
Gostamos das mesmas - que não queimam, mas aquecem.
Nada de coisa melada. Porque de doce basta-me você.
E embriagados, sozinhos, rimos e rimos de nossas histórias.
'Causos' e verdades que falamos assim, sem ponto nem vírgula,
apenas abraçados, celebrando um encontro regado à vida.


Caminhada

Você corre, eu caminho. Rápido, mas caminho.
Cada um no seu ritmo. Cada qual no seu espaço.
Mas quando nos cruzamos - isso é sempre e é fato -
há um real encontro:
de almas, de corpos, de pulsares.
Você corre, eu caminho. Ambos na mesma direção.


Massagem

-- Vou pegar o creme.
-- Tá. Pega lá.
-- Pronto. Tá aqui.
-- Eu faço em você.
-- Mas depois eu é quem faço em você.
-- Tá bom.
E é assim que assistimos à TV.
Você fazendo massagem em meus pés.
E eu fazendo nos seus.

Partida

Começa  a clarear o dia quando te vejo pela janela do ônibus,
mandando-me beijos da plataforma.
Você vai ficando pequeno e meu coração apertado.
Vontade de chorar, pedir pra descer e nunca mais sair do seu lado.
Um dia tudo isso muda. Não teremos adeus semanais, nem sensação de partida.
Ficarei contigo 24 horas, sem folga.
É assim que me quero para sempre.
Mas até lá, te digo adeus. Você na plataforma.
E a manhã mais uma vez nasce triste...

Um comentário:

Cleo disse...

leio a mari e morro de saudade dela...