18 de novembro de 2010

Da série Pressa

Imediatamente já

Já tem gente armando a árvore de Natal...
Por que será que as pessoas têm tanta pressa pra que o ano acabe?
Gente! Pare e pense: quanto mais rápido, mais velho!
Eu prefiro ir devagar... sorver cada segundo durante uma hora inteira!
Tô na Páscoa ainda. Tenho ovos que nem abri. Amanhã desembalo mais um. Faço aquela cara de "o que será que tem dentro?"
Abro e curto cada pedacinho do chocolate perfeito - porque não existe chocolate imperfeito.
Então, parem de querer me vender panetone! Não estou a fim de comprar a tele-sena de Natal.
Deixem-me viver um dia após o outro, de-va-ga-ri-nho.
Pra que essa angústia toda, hein? Hein?
Porque o Natal vem, quando tiver de vir. Nem um dia a mais, nem a menos.
E depois dele? Qual será a próxima urgência? O Ano Novo? O Carnaval?
Cara! Me deixa, porque ainda tô na Páscoa...


Sem tempo

Ela ficou grávida. Não estava nos planos, mas já que veio... vamos em frente!
O problema é que ela não tinha qualquer paciência. Nove meses é tempo demais, pessoas!
Pra ela era uma eternidade que ia aumentando conforme o tamanho e o peso da barriga.
Lá pelo quarto mês (vejam como era impaciente a menina!) ela se irritou de vez.
Decidiu que faria algo para acelerar esse processo e ter o filho (ou filha - ela ainda não sabia) antes dos 9 meses.
Mas, claro, perfeitinho, no tamanho normal e sem qualquer complicação.
Pesquisou tudo o que conseguiu sobre aceleração do tempo, assistiu 10 vezes o filme que o cara vai pro passado, pro futuro e não para nessa loucura de ir e vir, leu artigos científicos e tudo o mais.
Daí que só nisso foram três meses. Assim, no sétimo mês, ela estava sentadinha numa sala maluca, esperando um cientista super doido, indicado pela prima da vizinha da tia avó da melhor amiga da cunhada dela.
Sabia-se que o tal era um gênio, mas se tinha feito alguma descoberta sobre acelerar o tempo, ninguém nem imaginava.
Mas não custava tentar. E foi isso que ela fez. E por isso estava lá, naquele lugar esquisito, cheio de ferramentas, máquinas, jornal velho e cheiro de mijo.
De repente, a porta abriu-se e surgiu o cientista, mais pra professor Pardal do que qualquer personagem das séries de aventuras interplanetárias que passam na TV.
Mas ele tinha carisma. Ou, talvez, a moça apressada era muito babaca mesmo. Só sei que ele a convenceu de que era possível, sim, acelerar o tempo.
Bastava sentar na cadeira temporal, atrás do biombo e ao lado da privada, conectar-se aos fios e outros ganchos estranhos que ali se penduravam e fechar os olhos para esperar... esperar o que mesmo? Ah, sim... que, ao ligar o botão do tempo, a viagem começasse.
Porém.... claro que tudo tem um porém.... ele não podia afirmar que a aceleração seria exatamente os 2 meses que ela queria saltar da gravidez. Podia ser mais ou podia ser menos.
Mas quem não vive de risco? E a doida topou.
Sentou-se na cadeira, deixou-se amarrar e conectar tudo o que tinha direito. Fechou os olhos e esperou o cientista gritar: 'Já!'.
Esperou, esperou... abriu um olho, abriu o outro... e o cientista lá, parado, de costas, na frente de um painel todo luminoso. Ficou quieta e fez força, fechando os olhos para concentrar-se.
Foi aí, nesse exato momento, que ela sentiu que tudo estava molhado.
Caramba! Será que ela foi parar no meio do mar?
Que nada, tontinha! Foi a bolsa que estourou.
Felizmente, mesmo doidão, o cientista era rápido para tomar as devidas providências.
Levou a grávida, em trabalho de parto, no 7º mês, para a maternidade mais próxima.
Blade Runner (ela gostou do nome quando viu o filme, durante suas pesquisas sobre futuro) nasceu pré-maturo, mas super saudável. Quase 3 quilos. Loirinho como o pai. Ficou um mês no berçário.
A mãe doidinha ia e vinha do hospital para dar de mamar ao seu pequeno viajante do tempo.
O cientista acabou aceitando ser o padrinho de batismo.
E a vida continuou igual no Planeta Terra. Só começou a querer bagunçar de novo quando a mãe doidinha resolveu que o filho ia pular a fase escolar pra ir direto à faculdade.
Felizmente, o padrinho cientista, sabendo dos devaneios da moçoila, manteve uma placa de "volto logo" pendurada na porta de seu laboratório. Reza a lenda que, pelo estado da cadeira temporal, a viagem do cara foi pra bem longe... tô achando até que esse aí não volta mais.

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