3 de janeiro de 2012

Da série Ciclo

A arte do encontro

Mudar de foco às vezes cansa. Faz a mente se desmentir a cada ato falho. Já se pegou querendo estar na natureza, ter paz, sossego e, quando se vê diante de tudo isso, sonha com pessoas, carros e correria? Vício!
Já se sentiu como vaca pastando o dia todo sem saber pra que nem por quê?
Na hora em que o sol se vai, faltaram-te forças para seguir os pássaros que, em bandos, voltam para casa como se tivessem encerrado o expediente?
Pois aí está porque mudar de foco. Quando a alma se sente preenchida de outros tantos, não tem avesso.
O sol nasce e você se sente quente, começando a avermelhar.
Daí chega a brisa morna e, mesmo tão calma, consegue remexer você todo por dentro.
Quando o galo canta parece que é eco da sua força, guardada no peito, entre tantos "senões".
O verde passa a não ser só verde. Ele traça figuras e colore cada parte de sua retina - que só você vê.
O cheiro do mato é mais que o exótico aroma de uma tarde de verão. Transforma-se no seu oxigênio pessoal - e intransferível.
A chuva, que cai forte ou lenta, não significa fim do passeio ou preguiça ruim. Ela bate na janela e muda o ritmo de seu coração, totalmente integrado às gotas, numa paciência que molha tudo o que é mágoa e seca qualquer lágrima meio perdida.
Cada detalhe não é mais mero detalhe. A borboleta revela movimentos que você nem sabia-se capaz de imitar. E deixa braços e pernas sobre a terra, como em sonho, de tão leve que o pensamento voa - e ecoa.
As nuvens formam castelos, ovelhas, mas o que te encanta é aquele azul ao fundo, que se revela entre elas, como um caminho infinito no qual não cabe o nunca mais.
Tudo é novo quando se alcança o sossego. Não basta mais explicar, dizer, argumentar. É preciso sentir. Como se a vida não tivesse o que mostrar por ela só. Agora é a sua vez de descobrir o que ficou escondido enquanto se desassossegava dia e noite, correndo atrás do rabo, cansado de não saber mais de você.
Que bom que um novo ano começa. Não porque é novo, porque, de fato, não é. É apenas mais um tempo que reúne 365 dias. Podiam ser 500, 200... não importa. O que vale é que cada dia se faz tão pleno que chega a representar um século inteiro, tamanho o prazer de reencontrar-se. Reflexo de um amor de você por você mesmo. Muito além, muito acima, muito mais...feliz 2012!

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