Engano
Ela entreabriu as pernas de propósito.
Sabia que ele veria, no fim de suas coxas,
o seu desejo escancarado e semi nu,
só coberto por pêlos aparados.
Ele olhou e corou-se todo,
mas gostou de saber que era para ele,
que ela se arriscava só para satisfazê-lo.
Imaginou-se abocanhando-a inteira.
O tempo passava e a cumplicidade entre eles aumentava.
Todos os dias, naquele horário, ela sentava-se na frente dele,
no ônibus ainda vazio, que rapidamente lotava,
exigindo mútuos malabarismos: ela para mostrar,
ele para olhar, ambos para nutrirem-se um do outro.
Esse jogo durou pouco mais de um ano.
Ele nunca ousou sentar-se ao lado dela.
Ela nem tentou descer no mesmo ponto dele.
Um dia, de chuva forte, ela não apareceu.
No outro, de sol escaldante, ela também não veio.
E assim foi por algumas semanas,
até que ele desistiu e passou a tomar o ônibus certo,
que o levava para casa.
Aquele? Ah, aquele tinha sido mero engano.
Kit
Ela morava bem no centro da cidade,
em uma kit do tipo super cubículo.
Trabalhava o dia todo, chegava em casa à noite,
preparava um lanche, tomava banho
e, assistindo à TV, dormia.
A rotina era essa de segunda a sábado.
Aos domingos, batia perna sozinha ou com amigas.
Mas, em uma noite, na hora do tradicional banho,
assim que ligou o chuveiro, ouviu gemidos do outro lado.
Até desligou a água para perceber o que estava acontecendo.
O gemido, masculino, intensificou-se, aumentou
e terminou com um sonoro óóó...
Ela sentiu o coração acelerar e um arrepio tomá-la por inteiro.
Ligou o chuveiro e continuou seu banho.
Concentrada naqueles gemidos, acariciou-se, tocou-se,
sorriu de satisfação, deliciando-se consigo mesma.
Nem ligou a TV. Dormiu direto, exausta e relaxada.
Na noite seguinte, de novo, na hora do banho,
lá estava o vizinho a gemer repetidamente.
Desta vez ela resolveu acompanhá-lo.
Gemia também, aumentando o tom conforme sua mão
tocava seu sexo, que há tempos sentia-se vazio.
Imaginou que aquele gemido, do outro lado, era alto,
tinha braços fortes, tatuagem nas costas largas,
pele morena e um pênis... um pênis... UAU!
O prazer aumentou e os gemidos também.
Quanto mais ela gritava, mais o bonitão do outro lado se manifestava.
E, desta vez, ela ouviu, no final, um agradecido "delícia..."
E não se conteve, devolvendo ao vizinho um sonoro "tesudo!"
O dia passou a ter mais sentido: o banho à noite.
E essa troca de gemidos durou um bom tempo.
Até que, numa noite - ela lembra-se que era sexta-feira -,
começou a ouvi-lo e, quando se preparava para o ritual,
escutou um outro gemido, também do lado de lá, mas... de mulher!
Desligou o chuveiro para certificar-se de que não era um delírio.
Não... não era. A vadia gemia, sim! Vaca!
Ficou enlouquecida, possessa, perdeu o controle.
O desgraçado traiu seu gemido com outro gemido!
Saiu pelada do banho, abriu a porta e foi bater na porta ao lado.
Bateu com força. Silêncio...
Bateu de novo e ouviu passos.
Ele abriu a porta com a toalha enrolada na cintura.
Ela sentou-lhe um tapa na cara.
Virou-se e saiu nua, vingada, deixando
um rastro de água pelo caminho,
enquanto ria-se por dentro:
ele era gordo, baixinho... e feio!
2 comentários:
Adorei o texto! Os textos e a iniciativa...vai ser bom poder ler suas 'palavras Lado B' por aqui!
Beijo,
Gabi
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