12 de julho de 2009

Da série... feriado de 9 de julho

Conflito de gerações
Para Ale Araujo, que me mandou um email
bem-humorado, inspirando esta historieta no feriado.

-- Esse feriado é só em São Paulo?
-- É... 9 de julho é só São Paulo.
-- O que aconteceu nesse dia, afinal?
-- Ah, filho... é o que chamamos de MMDC.
-- É isso??? Não acredito...
-- Por quê? A partir daí traçou-se uma nova história pro Estado.
-- Mas, pai, que ridículo! Isso é um lance universal!
-- Como universal, menino!?
-- Ah, pai, vocês das antigas adoram essa coisa nacionalista! MMDC é do Planeta!
-- Filho... desculpa... mas quanta ignorância...
-- Ignorância, pai, só porque minha geração é globalizada?
-- Não vou discutir com você, porque tenho mais que o dobro de sua idade e experiência de vida, moleque!
-- Amor, filhote... o que vocês tanto conversam que não vêm almoçar?
-- Mulher, essa juventude tá cada vez mais alienada!
-- Alienada? Mãe... o pai quer me convencer que o MMDC é algo paulista. Me poupe!
-- Filho! Pára e pensa! Esse evento foi uma revolução...
-- Puts! Desde quando MMDC é um evento, pai? Fora que tem coisas bem mais avançadas e revolucionárias... aliás, só me serviu pro vestibular. Nem lembrava mais disso!
-- Mulher... essa falta de memória e valorização histórica dos jovens me assusta!
-- Tá certo, amor. Tá certo, filho. Hoje é feriado, vamos almoçar em paz, sem discussão... venham!
-- Tá, mas, pai, decretar feriado pro MMDC é demais pra cabeça!
-- Só se for pra sua cabeça de bagre...
...
Nota da autora: para esse pai, MMDC são as iniciais de Martins, Miragaia, Drauzio e Camargo, mártires da revolução de 1932. Para esse filho, MMDC são as iniciais que ele aprendeu no cursinho para decorar Máximo, Mínimo, Divisor, Comum. E pra você? O que é MMDC?

Final online


"Aconteça o que acontecer, saiba que nunca deixarei de amar você da maneira que sempre amei desde que nos conhecemos, e esse amor se estenderá em mim e, tenho certeza, jamais morrerá. Mas hoje seria a pior das farsas manter uma situação que você sabe tão bem quanto eu ter se tornado irremediável, mesmo com todo amor que sentimos um pelo outro(...) Gostaria que as coisas tivessem tomado um rumo diferente. Cuide de você."

Este trecho é o final do texto que peguei na entrada da exposição, no Sesc Pompéia, na tarde do domingo do feriado. Na verdade, é o email que a artista recebeu do namorado, que lhe deu o fora assim, pela internet...
Ela confessa que não sabia como reagir. Nem o que dizer. Nada a responder. E fixada na última frase - 'cuide de você' - foi tocar a vida. Convidou mulheres diversas para que expressassem à sua maneira a reação ou resposta ao email-chute-na-bunda. Que fizessem o que ela não conseguiu fazer.
E a exposição vai por aí. Manifestações de senhoras, moças, advogadas, bailarinas, revisoras de texto, artistas de teatro, músicas... cada uma, do seu jeito, reproduzindo a sensação de levar esse tipo de fora - meio covarde, cá entre nós- de um jeito próprio.
E eu ali, olhando tudo aquilo, com o texto na mão, pensando o que eu faria se isso acontecesse comigo, desse jeito 'pápum': numa linda manhã, eu abro minha caixa de emails e vejo que tem um dele - o homem que amo! Checo por cima e percebo que é um texto longo -o que é animador já que a grande maioria dos machos é aversa à escrita- e me surpreendo a cada parágrafo, como a faca que vai entrando mais e mais na carne até atingir o osso. No fundo é o estilo clássico do fora: 'te amo, você é tudo de bom, mas o problema sou eu e não você. Não dará certo. Não queria que terminasse, mas mesmo te amando tem de ser assim'... o que eu faria? Como eu reagiria? E de repente me veio a resposta mais que pronta: ctrl alt del.

*Para quem quiser conferir, a exposição, muito bacana por sinal, estará no Sesc Pompéia até início de setembro.

Divagações final de feriadão

Ela passou alguns anos, pós divórcio, fazendo o diabo por aí. Saia com qualquer um, acabava em qualquer cama... pintou, bordou e arrematou muito. Mas isso cansa. E a cansou também. Namorou firme, ficou apaixonada, desiludiu-se, desnamorou e, de relação em relação, acabou sozinha. Depois de um tempo, numa dessas oportunidades raras da vida, um cara bacana apareceu e retirou o pó do coração da já então desencantada. Parecia que a coisa ia engrenar, que um casamento - o segundo - poderia se realizar a médio prazo. Ela chegou mesmo a animar-se e fazer planos com ele. Mas por mais que insistisse nisso, sempre algo a desestimulava. No começo, ela achou que era frescura, uma auto-defesa pra fugir de um compromisso que poderia fazê-la sofrer de novo - e ela tinha esgotado seu vale de lágrimas. Foi pra terapia, fez N sessões e percebeu que não. Que era fato e que nunca mais conseguiria casar de novo. Por bobagens que ele fazia (e que os homens fazem em geral). Bobagens mesmo, ela assumia conscientemente. Mas não tolerava e não dava conta de engolir seco fingindo que essas coisas miúdas não a incomodavam. Exemplo? Então... ela tinha calafrios toda vez que ia ao banheiro da casa dele - ou ele passava pelo banheiro da casa dela - e as tampas da privada estavam levantadas. Queria entender por que tinha de ser desse jeito se o fabricante projetou o trem com as malditas tampas?! Se existem por que não usá-las? Outro exemplo de bobagem: migalhas na toalha da mesa da cozinha. Que cáspita essa mania de deixar os farelos se acumularem por dias? Por que era tão difícil bater a toalha vez ou outra no tanque? Mais uma que a tirava do sério: cabelos - muitos e infindos - nos ralos do boxe e na pia do banheiro. Ela acordava jurando para si mesma que o dia ia ser bom, mas entrava no banheiro pra escovar os dentes e dava de cara com aquela pelagem toda... pronto! IA ser um bom dia...IA! E a mania de espalhar tudo pela casa? Sapatos na sala, meias no corredor, camisa e calça no quarto, relógio no banheiro, cueca no escritório, celular e carteira na cozinha. Por que essa necessidade canina de demarcar o território? Por essas e por outras ela não seguiu em frente com os sonhos de vida a dois. Saiu de cena, porque ele queria que fossem além e ela não conseguia passar por cima desses detalhes insignificantes. Daí, resolveu ficar sozinha. E assim foi. Meio triste, eu sei. Mas são as escolhas. São os limites. Sei que é dureza alguém optar pela solidão porque não suporta as tampas da privada sempre levantadas. Também acho... mas devo confessar uma coisa: isso também me irrita bastante, sabe? Mas, ainda, não é motivo pra ficar sozinha... ainda não...

3 comentários:

Unknown disse...

Preciso comentar: Li, achei muito bem escrito, como td que vc faz e queria deixar aqui um pouco de minha experiência. estou vivendo junto com o Zeca há mais de três anos e realmente sei que para isso é mesmo necessário abrir mão de alguma coisa. Somos seres únicos, com desejos únicos e limitações especiais e individuais. aprendi que achômetro é a pior coisa desta vida e que deduzir que o outro sabe o que vc pensa é um enorme erro. Tampas de vasos levantadas, bagunça na sala, distração para com o meu discurso, às vezes, tb me desagradam, mas, dividir todo resto que é bom vale muitooooooooooooooo à pena.
Bjs

Cléo disse...

Maricota... Além de curtir tudo o que vc escreve, o texto sobre a exposição me fez lembrar um episódio de Sex and the City no qual o namorado da Carrie termina com ela num post it. O texto era mais ou menos o seguinte " Desculpe, não dá.". Já imaginou? Adorei a releitura dos contos de fada, tb... Absolutamente demais! Beijos, minha amiga. Cléo.

Tita disse...

Essas pequenas coisas matam a gente. Matam bem matado porque vão matando aos poucos e apesar de serem só bobagens, matam. E eu fico pensando nas bobagens que fazemos e que matam a eles do mesmo jeito, pouco a pouco. Por que cismamos em querer juntar o que é tão absolutamente diferente?
Adorei Mari,
Beijo,
Cris