Quando ela é de menos
Perdeu todas as lembranças. Não foi assim, de uma vez, não. Aconteceu aos poucos e, quando percebeu... quem ela era?
Procurou na caixa de brinquedos, no fundo do armário, o tempo da infância. Nada. Nenhum aniversário com bolo confeitado ou vestido rosa e tranças feitas pela doce madrinha. Nem os natais, com a visita do Papai Noel - o vô Mauro fantasiado. Também não se lembra do dia em que, aos prantos, foi pela primeira vez para a escola. Ausência de tudo, sem repentes nem relâmpagos de história.
Recorreu aos velhos diários escritos na adolescência. Não se lembrou qual foi o primeiro amor - certamente platônico - nem quando começou a usar sutiã e batom rosa. Nada lhe veio à mente sobre o primeiro beijo nem os bailinhos "mela-cueca", rostos colados, em alguma garagem da casa de alguma amiga. Também não se recordava da primeira transa, do casamento - festa bonita -, do emprego onde ficou quase que a vida toda, dos filhos que vieram, do divórcio que os sucedeu... tudo esquecido, largado em algum buraco negro da memória vazia.
Mas de tudo isso, o que realmente a incomodava, deixava-a extremamente indócil e irritada, era não se lembrar, de jeito nenhum, onde guardou os malditos cigarros!
Perdeu todas as lembranças. Não foi assim, de uma vez, não. Aconteceu aos poucos e, quando percebeu... quem ela era?
Procurou na caixa de brinquedos, no fundo do armário, o tempo da infância. Nada. Nenhum aniversário com bolo confeitado ou vestido rosa e tranças feitas pela doce madrinha. Nem os natais, com a visita do Papai Noel - o vô Mauro fantasiado. Também não se lembra do dia em que, aos prantos, foi pela primeira vez para a escola. Ausência de tudo, sem repentes nem relâmpagos de história.
Recorreu aos velhos diários escritos na adolescência. Não se lembrou qual foi o primeiro amor - certamente platônico - nem quando começou a usar sutiã e batom rosa. Nada lhe veio à mente sobre o primeiro beijo nem os bailinhos "mela-cueca", rostos colados, em alguma garagem da casa de alguma amiga. Também não se recordava da primeira transa, do casamento - festa bonita -, do emprego onde ficou quase que a vida toda, dos filhos que vieram, do divórcio que os sucedeu... tudo esquecido, largado em algum buraco negro da memória vazia.
Mas de tudo isso, o que realmente a incomodava, deixava-a extremamente indócil e irritada, era não se lembrar, de jeito nenhum, onde guardou os malditos cigarros!
Quando ela é demais
Ele se lembrava de tudo sobre a vida dos outros e acontecimentos gerais.
"A Cris falou com 1 ano e dois meses", "Paulo andou com 11 meses".
"O primeiro show de Frank Sinatra no Brasil foi dia 2 de fevereiro de 1980, no Maracanã".
E por aí ele ia: "a primeira namorada do Gledson chamava-se Silvia. Eles se conheceram em 1955 e ela tinha uma pinta no ombro esquerdo".
Ele se lembrava de tudo sobre a vida dos outros e acontecimentos gerais.
"A Cris falou com 1 ano e dois meses", "Paulo andou com 11 meses".
"O primeiro show de Frank Sinatra no Brasil foi dia 2 de fevereiro de 1980, no Maracanã".
E por aí ele ia: "a primeira namorada do Gledson chamava-se Silvia. Eles se conheceram em 1955 e ela tinha uma pinta no ombro esquerdo".
"Lembro que o Fábio tirou 5 em português, quando estávamos no segundo ano primário... em 1948".
E dizia coisas como, por exemplo, Alberto ter casado numa tarde de dezembro, no começo dos anos 50, e ter chovido à beça, destruindo a cobertura preparada para a festa. E Alberto nem lembrava se quer o dia de seu casamento.
Memória impecável. Desde criança pequenina. Um baú de recordações, fatos, curiosidades...
Um dia, seu neto perguntou-lhe ingenuamente: "Vô, qual foi o dia mais feliz da sua vida?"
Ele parou por alguns minutos, deu um sorriso maroto e respondeu: "Foi quando o professor me perguntou qual era a idade de Einsten quando ele saiu da Alemanha. Não lembrava de jeito nenhum. Sua avó, que sentava atrás de mim, assoprou a resposta... e eu me apaixonei por ela".
E dizia coisas como, por exemplo, Alberto ter casado numa tarde de dezembro, no começo dos anos 50, e ter chovido à beça, destruindo a cobertura preparada para a festa. E Alberto nem lembrava se quer o dia de seu casamento.
Memória impecável. Desde criança pequenina. Um baú de recordações, fatos, curiosidades...
Um dia, seu neto perguntou-lhe ingenuamente: "Vô, qual foi o dia mais feliz da sua vida?"
Ele parou por alguns minutos, deu um sorriso maroto e respondeu: "Foi quando o professor me perguntou qual era a idade de Einsten quando ele saiu da Alemanha. Não lembrava de jeito nenhum. Sua avó, que sentava atrás de mim, assoprou a resposta... e eu me apaixonei por ela".
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