Peixe fora d'água
Estou de volta ao vazio dos muitos carros que se atropelam nas ruas estreitas.
Sufoco-me no ar pesado e cinza que paira entre os arranhacéus.
Vejo as caras cansadas e as almas penadas dessa gente que sobrevive.
Não sou mais daqui. Peixe fora da água deste mar de concreto.
Quero voltar para perto das capivaras, abanando as orelhas.
Preciso do sabor natural do sorvete que me alimenta nas tardes quentes, sentada no banco da praça.
Necessito descer e subir as ladeiras, sempre a pé e devagar.
Quero deixar as portas destrancadas e os vidros abertos - como fica meu coração quando lá estou -, sabendo que não serei invadida.
Gosto de fazer bolo de laranja e levar um pedaço quentinho ao meu novo amigo, o porteiro do prédio aconchegante, de três andares, onde mergulho nos meus dias de paz.
Fazer compras nas lojas simples, de preços justos e pessoas sensatas.
Caminhar no parque da juventude - point da cidade -, sentindo-me como tal, mesmo beirando os 50 anos.
Amar meu marido de um jeito tão sereno como nunca havia, assim, amado.
Esperá-lo para jantar, assistir à TV, falar de nós, dos outros, do mundo e de planos.
Dormir cedo, acordar no pique, querer viver mais e mais essa vida em que o dia tem, sim, 24 horas, sentidas e curtidas como que eternas.
Voltei... mas não é aqui que me encontro. Preciso retornar ao meu mundo. Preciso reencontrar as capivaras!
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