3 de maio de 2011

Da série Retalhos

Firmamento

Olhando assim, parece um pedaço de pano. Anil, escuridão...
Mas, não. Porque ao lado, bem ali onde um brilho chama a atenção, reluz a lua.
Simplesmente céu.

Juvenil

O vai e vem e o branco esmalte do dente, que aparece entre uma abertura e outra, me diz que o chiclete que masca é de hortelã, tamanho o verde da sua boca.
Não gruda no aparelho, metais contorcidos que forçam novo sorriso, porque é malabarista da língua.
Enrola-me.

Notas

Saiu no assobio e ecoou depois, na melodia que cantarola sem parar.
Ficou. Grudou nas cordas vocais e abduziu os pensamentos.
O mesmo tom, no mesmo ritmo, a martelar o dia, a noite... escala que não se rompe
e só vai ter fim quando outra canção te apossar.

Damas

As cartas se perdem no meio da mesa, fora do baralho.
Espalham profecias e ditam destinos tensos para crédulos.
Numa metade do monte, ela surge sobre as outras, imponente.
É a dama negra que, para os sem fé, mete medo: 'bati!'

Re pouso

O rodopio hipnotiza enquanto flutua no ar leve, simples.
E cria o suspense, a incógnita, o inesperado...
Até que se define e, depois de um giro mortal, pousa sobre o galho retorcido.
Pena que se entrega ao vento depois de servir às asas do pássaro ferido.


Pele

Não queria marcar-se com nomes nem figuras estranhas.
Na pele morena, ressecada pelo sol e vento,
a vontade era de expressar a solidão
que carregava na carona de sua moto.
Tatuou-se com um pingo.
Nada mais frágil como a gota que cai
e que nada significa sem juntar-se a outras.
Era tudo o que sentia... tudo.

Um comentário:

Tita disse...

O juvenil, foi o que mais gostei.
beijo,
Cris