31 de dezembro de 2009

Da série Virada do ano

Plataforma de governo

-- Caros, antes da bater a meia  noite, reuni todos vocês para contar que em 2010 estarei investindo na eleição.
Aproveitarei para lançar a minha candidatura para o lugar de Deus.
Não que eu tenha qualquer coisa contra a gestão do Todo Poderoso, mas, convenhamos, tantos mandatos seguidos acabam desgastando a imagem do líder, por melhor que ele seja.
E melhor do que Ele, sabemos, não existe.
De qualquer forma, mesmo sendo infinitamente inferior ao Pai, acredito que a renovação traz novos ares.
Sei que Ele é o cara. Mas eu posso ser a corôa e propor novidades para agitar um pouco o cotidiano.
A primeira delas é a descentralização do gerenciamento do Planeta. Criar subdeuses que comandam o seu país, de acordo com as necessidades celestiais de cada povo.
A partir daí, como a subdeusa brasileira, terei como principal bandeira o que chamo de "segunda chance".
Por decreto - porque neste País as pessoas já se acostumaram com os decretos - vou definir que cada brasileiro possa viver 80 anos. Passado esse tempo - e salvo os apressados que por imprudência se forem antes - o indivíduo morre, mas de morte tranquila. Dormindo. Acorda e pronto: tá morto. Aí ele vai para um lugar bacana, com frigobar e ar condicionado, e passa ali uns meses reciclando-se, fazendo uma análise do que viveu nos anos que esteve na Terra, aquilo que quer mudar e fazer diferente e tal. Daí, quando o MBI celeste estiver concluído, ele volta. Mas pra mesma situação, na mesma pessoa. Os pais são os mesmos, tudo igual. E mais: volta sabendo o que viveu nas oito décadas e aquilo que quer fazer de novo ou mudar. E, dependendo da sua performance, pode ganhar 10, 20 ou até 30 anos a mais de vida (vide tabela).
Porque assim seria mais justo. Uma segunda chance pra poder consertar as cácas feitas e aperfeiçoar os acertos...

-- Por favor! Alguém tira a champagne dela, pelamordedeus!!!

Frustrações

Eu já entrei nessa de fazer pedidos. E, pra compensar, algumas promessas.
Não rolava uma coisa nem outra. O que pedia não vinha. O que prometia não cumpria.
E a frustração? Afinal, são 365 dias de prazo e, caramba!, você não dá conta de fazer nada do que se propôs? Não é uma droga?
Por essas e por outras parei com isso. Meu nome é Mari e estou sóbria há 10 anos.
A vida que flua e eu influa. O que vier, será acolhido de bom grado. O que não acontecer... fico brava, confesso, mas depois passa. Ano que vem tem mais.

10, 9, 8, 7, 6...

E foi no 'um' que fez-se a luz!
Ele entendeu porque, afinal, tudo dava tão errado no ano que entrava. Era a contagem regressiva. Como não percebeu isso antes?
Afinal... como fazer uma contagem 'regressiva' se é para ir pra frente, pro novo, para o que será?
Compartilhou sua teoria com os demais: "Não é que você tem razão?", "Nossa! Algo tão óbvio e nós nunca nos atentamos para isso!", "Cara! Você é o máximo! Devia defender essa tese em algum doutorado".
Que ideia! Defender e passar à frente sua tese brilhante.
Foi o que fez, com direito à orientação de um bambambam em contagens, depois ao desenvolvimento de um texto magnífico, recheado com citações e com uma bibliografia gigantesca. Defesa para a banca e nota 10 com louvor. Era doutor na teoria da contagem progressiva para o ano novo!
Curiosamente, todo esse processo encerrou-se no final de dezembro. Já doutor, ele foi convidado pelas autoridades para, no microfone e com transmissão em rede para todo o País, fazer a contagem da virada sob os novos moldes. Ele ficou super excitado com a ideia. Sabia que poderia propiciar aos compatriotas um ano diferente, insuperável, porque os números seriam cantados em ordem crescente, como as esperanças e os desejos de todos.
Preparou-se para o grande dia. Fez mil ensaios e gargarejos para que a voz não falhasse na hora. Já pensou na próxima tese: como as coisas se desenrolaram para um grupo de pessoas selecionadas, que tiveram um péssimo ano anterior - quando o tradicional 10, 9, 8, 7... ainda reinava -, comparando-o com o novo ano progressivo que se iniciaria.
No local combinado, estavam todas as emissoras de Tv, as de rádio, repórteres dos jornais e das revistas... e a população compareceu em peso.
Um minuto para a meia noite, de microfone em punho, as luzes focaram-no no palco armado e todas as casas do País, sintonizadas, esperavam a revolucionária contagem que traria novos ares ao destino de cada um.
E lá foi ele, mas, quando se deu conta... 10, 9, 8, 7... tinha feito a contagem tradicional de novo! Saiu sem querer, merda! Maldita força do hábito!

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