Nostalgia
Tô me sentindo como me sentia aos 12, 13 anos.
Minha mãe avisava meio em cima da hora, justamente pra evitar que a ansiedade me dominasse por dias sem fim: "Vamos viajar em férias depois de amanhã!"
Iupiiiii!!!! Era uma alegria só. Eu adorava ajudar a arrumar as malas. O mais legal era acordar de madrugada, ainda escuro, e subir no táxi que nos levava à estação da Luz, para pegar o trem.
As duas noites que antecediam a aventura eu não dormia. Só cochilava e era acordada pelo frio na barriga que me invadia vez ou outra, na deliciosa expectativa.
Era julho também, frio à beça. Acordar e tirar o pijama de flanela, ainda sob as cobertas, para vestir as meias, calças e a camiseta de manga comprida, faziam parte do ritual.
Escovava os dentes me olhando no espelho e imaginando a primeira imagem que eu teria ao chegar na cidade do interior, onde, por alguns anos, as férias de inverno eram amplamente curtidas.
Entrei no trem várias vezes, mas sempre era bacana, diferente. A viagem durava 5 horas que eu vivenciava como as mais especiais. Quando o carrinho de comes e bebes apontava lá na frente do vagão, eu já olhava pra minha mãe.
Ela sinalizava positivamente com a cabeça, porque tinhamos direito a uma refrigerante caçulinha e um salgado, que podia ser daqueles fedidos, de pacote, ou o cachorro-quente. Sempre escolhia a segunda opção porque sabia que meu irmão escolheria a primeira - e eu podia filar salgadinhos dele (alguns ele deixava... mas só alguns!).
O vai-e-vem do trem acabava aguçando um soninho bom, ainda mais para quem não tinha dormido bem por duas noites. Mas a excitação era tamanha, especialmente com a paisagem correndo na janela, que eu nem piscava.
Na hora do almoço chegávamos ao destino.
Meu tio nos esperava na estação. E, bem apertadinhos, num fusca, íamos pra casa dele.
A mesa posta enchia os olhos e fazia o estômago roncar. A tia sempre foi cozinheira de mão cheia e aquele clima de interior... nossa! Era como se eu entrasse num mundo paralelo.
Eram 15 dias em que eu me liberava de todos os medos e de regras. Vivia descalça, corria na areia das fazendas, fazia acampamento, comia pra caramba, inventava brincadeiras com minhas primas, paquerava os meninos de lá, que me achavam o máximo porque eu era de "sumpaulo"...
E chegava o dia de voltar... sempre chorei baixinho na noite anterior, sufocando o som no travesseiro, com a sensação de que estava perdendo uma parte importante de mim.
E pegava o trem de volta, depois de ter de ajudar, forçadamente, a arrumar as malas.
Não tinha vontade nenhuma de tomar minha caçulinha nem comer o cachorro-quente.
Dormia quase a viagem inteira pensando que, ao acordar, eu estaria de volta à casa de meus tios, descabelada, suja e cheia de barro depois de brincar de rolar na lama.
A vida recomeçava, fria e cinza, lá em casa.
E, por algumas semanas, sentia-me deprimida e sem graça.
Até que o ano corria e minha mãe avisava: "Vamos viajar depois de amanhã!"
Meus olhos brilhavam e meu coração acelerava na mesma hora, como me sinto hoje, quando sairei do trabalho ávida para curtir minhas férias.
Não vou tomar trens nem comer cachorro-quente. Mas, se puder, quero ficar descalça e rolar na lama. Esquecer o tempo e as regras. E devolver pra mim aquilo que deixei lá atrás, naquele tempo, naquelas aventuras que pra sempre marcaram minha vida. E que resgato ao lado de quem amo, também numa deliciosa cidade do interior.
4 comentários:
Delicia Mari,
Aproveita meeeesssssmmmoooo
Cris
escute música sertaneja tb! tá em alta cá isarosa@gmail.comno country side! óóótima viagem!!!!!!!!! Cléo.
vc entendeu, né? :) deu um tilte aqui... hehehe. cléo.
Nooossa, prima!!! Que saudade danada!!!
Curta muito suas férias!
Bjocas. Marta
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